A MALDIÇÃO DE AÉCIO
A presidência caiu no colo de Tancredo por obra e graça dos militares, como efeito retardado da segunda bomba que não explodiu no Rio Centro. Devido ao seu perfil conciliador, Tancredo era o político ideal para que os milicos garantissem o controle da situação, durante a transição de uma Ditadura Envergonhada para uma Ditadura Consentida. Conciliação era a palavra chave. A mesma conciliação que garantiria a impunidade dos militares brasileiros, os únicos da América Latina a serem anistiados pelo Supremo Tribunal Federal por crimes imprescritíveis contra a Humanidade. Consenso é o pavor do que não se expressa, já dizia Derrida.
Essa conversa de conciliação, aliada ao papo de ser a presidência um destino e não uma escolha, marcou o espírito de Aécio como uma martelada na cabeça.
Naquele momento crucial, "DIRETAS JÁ!", passeatas, comícios com a presença de grandes cantores da MPB, Tancredo representou de forma excepcional o papel de Lavador de Almas, “o escolhido", o homem disposto a subir no cadafalso do Colégio Eleitoral em prol do povo brasileiro.
A emoção estava no ar, vinte e quatro horas. Os especialistas em manipular massas sabem que a emoção é uma droga, que se bem administrada alastra-se como vício, gerando no usuário o desejo de reviver os momentos trágicos ou mágicos, a depender do desfecho da picada. De uma forma ou de outra, a âncora da emoção sempre deixa sua marca irrevogável na mente do cliente.
O desfecho da transição democrática vocês já conhecem: trinta e oito dias de agonia, tudo filmado e refilmado à exaustão, Tancredo sendo exibido como um boneco sem fala pelos médicos do Hospital de Base de Brasília em foto tirada no dia 25 de março de 1985, até a comoção causada pelo anúncio da morte e o sepultamento do corpo do Presidente em São João Del Rey.
A morte do avô carimbou profundamente o destino político de Aécio, que passou a se enxergar sempre pela ótica de Tancredo: "o melhor presidente que o Brasil nunca teve”. Desde então, Aécio está condenado a repetir o destino manifesto de Tancredo: continuar sendo o que sempre foi sem nunca chegar a ser o que poderia ter sido. Confuso, não?
Nem tanto, foi mais ou menos essa a resposta que Aécio deu ao jornalista Josias de Souza: “tenho dificuldade de entender as surpresas ou frustrações que alguém possa ter com o fato de eu continuar sendo o que sempre fui e fazer o que sempre fiz na minha vida pública”.
Ou seja, Aécio quer continuar fazendo o que sempre fez: (insira aqui a palavra que exprime a relevância de Aécio para a renovação política brasileira).
Basta que Aécio mantenha o seu nome nas bocas, frequente as passarelas, fuja do debate, não entre em polêmicas, e no momento propício, ao contrário da onda que se quebra na areia, Aécio continuará sendo de novo do jeito que sempre foi um dia. Ficou mais confuso? Paciência, a História dá voltas em espiral, o mesmo aconteceu com Tancredo, político dotado de uma habilidade incrível para se colocar sempre no lugar certo nas horas mais incertas.
Repetindo, pra frisar bem, Aécio não se livrou da maldição do avô, maldição que consiste em ser o que se é sem nunca chegar a ser o que poderá ter sido. Daí a importância da morte. Aliada secreta, a morte com sua foice é o ponto de irrigação política do nome de Aécio, figura responsável por manter acesa a chama de uma candidatura à presidência cada vez mais distante.
Dia desses o Jornal Estado de Minas soltou uma nota falando que Aécio poderá se candidatar ao Governo de Minas em 2014.
Já dizia Lulu Santos, “não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo”. Pois então, Aécio, para se encontrar com seu destino, viabilizando-se como candidato a Presidente, depende da morte de terceiros. Não apenas da morte biológica, mas também da morte de modelos, do esgotamento de alianças. Por isso Aécio está sempre se movendo nos bastidores, buscando cooptar aliados entre os apoiadores do Governo atual, preservando de críticas os ministros mais incompetentes, de olho nas rebarbas políticas. Quando as portas da História se abrirem para ele, Aécio não terá pudores em se aliar às mesmas forças fisiológicas que sustentaram o Governo do PT desde a ascensão de Lula. Desde que seja para o bem do povo, Aécio não se importaria de ser eleito Presidente sem romper com as forças políticas mais retrógradas.
Mas, para que o plano secreto de Aécio dê certo, é preciso que algo de extraordinário aconteça. Em se tratando de possíveis candidatos a uma morte extraordinária, esse defunto não precisa necessariamente ser o do José Serra, pode ser a morte simbólica de um modelo de governo, de um projeto político, ou até mesmo o passamento de um líder popular, fazendo por linhas tortas com que a bola da Presidência caia no peito de Aécio.
Quando esse fato extraordinário acontecer, e Aécio tiver a chance de tornar-se Presidente do Brasil por força do acaso, como deu-se com Tancredo, a maldição legada ao neto pelo avô terá chegado ao Fim.
Pena que quando esse dia chegar, Aécio estará com 76 anos. E no dia anterior à sua posse como Presidente da República, Aécio inventará de comemorar a vitória surfando em uma praia escondida da Austrália, e ele, relembrando os tempos em que surfava no Rio, arriscará uma manobra arrojada, perderá o controle da prancha e baterá com a cabeça numa pedra, vindo a morrer na praia como sempre sonhou.
JT Palhares
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