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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Caros Amigos: Ataques em SP: Pesquisadora vê política de extermínio de pobre

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 Ataques em SP: Pesquisadora vê política de extermínio de pobre

Publicado em Quinta, 02 Agosto 2012 15:29
Escrito por Caros Amigos


Site da Caros publica série de entrevistas sobre a nova onda de ataques

Por Tatiana Merlino
Caros Amigos

ViolenciaSP-seloA onda de assassinatos nas periferias e região metropolitana de São Paulo faz a capital paulista relembrar os ataques de maio de 2006, quando mais de 446 pessoas foram assassinadas, e questionar as ações da polícia.
Em entrevista à Caros Amigos, a diretora do Observatório das Violências Policiais, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Ângela Mendes de Almeida, aborda a nova crise na segurança e o embate de um governo conservador contra a população pobre.
O site de Caros Amigos abre com Ângela Mendes uma série entrevistas sobre os ataques atuais na capital paulista. Leia abaixo.

Confira reportagem especial sobre esta nova onda de ataques na edição 185 da revista, em breve nas bancas nesse mês de agosto.

Caros Amigos - Como você vê e entende esse fenômeno de violência em São Paulo? O que acha que está por trás disso?
PCC-tpÂngela Mendes de Almeida - Os agentes do Estado – policiais militares, civis, guardas-civis e outros – sempre mataram, mas há épocas, na história recente de São Paulo, em que a violência policial recrudesce. Tivemos o Massacre do Carandiru, até hoje impune. Depois o Massacre do Castelinho, em 2002, no qual o então secretário da Segurança de Alckmin, juntamente com um juiz e um promotor, retiraram da prisão dois presos já condenados, para infiltrá-los no PCC e convidar algumas pessoas para um assalto a um avião com dinheiro, inexistente: as doze, que aceitaram o convite, foram metralhadas no pedágio do Castelinho. Depois os crimes do maio sangrento de 2006, longamente retratados como ação do PCC, que já estão agora desmascarados como o que foram de fato: matança indiscriminada de ao menos 446 pessoas por agentes do Estado em apenas oito dias.
CA - Você acha que existe alguma relação entre os assassinatos que estão ocorrendo e a proximidade das eleições?
AMA - A operação Castelinho teve um claro objetivo eleitoral. Quando mais tarde, o governador Alckmin concorreu, em sua propaganda estava o anúncio do fim do PCC obtido nesse massacre e a promessa de segurança.

Mais:

É difícil analisar agora porque as mortes cotidianas cometidas regularmente por policiais à razão de uma pessoa e meia por dia, em média, tiveram um incremento tão grande após o episódio em que a Rota matou seis pessoas classificadas como sendo do PCC, no fim de maio desse ano. Mas não excluo uma operação eleitoral visando insuflar a população de classe média e alta contra “os bandidos”, isto é, contra os pobres. Espalhando o medo e o sentimento de ameaça à propriedade privada, alguns políticos esperam ganhar eleitores com a proposta de “tolerância zero”, isto é, aumentar o extermínio.
CA - Você acha que é possível fazer uma relação entre o que está ocorrendo hoje e o que ocorreu em maio de 2006?
AMA - É sim possível fazer uma relação a partir dos números. Os oito dias de matanças de 12 a 20 de maio foram dramáticos. Hoje temos visto uma matança contínua, porém mais espaçada no tempo. Porém há muitos mecanismos que se repetem. Um deles é o toque de recolher, que a imprensa, seguramente de má fé, atribui ao “crime organizado”, mas que nós sabemos que é imposta pelos próprios policiais nos bairros das periferias.
Em relação àqueles crimes de 2006, dos quais pudemos ter na imprensa e por via de familiares que elaboraram a narrativa do que aconteceu, temos uma perigosa novidade que me assusta nos crimes atuais. Além dos “comboios da morte” em Osasco, que foram percorrendo uma rua e mataram oito em uma noite, depois foram percorrendo bairros próximos e mataram outros oito em uma outra noite, temos agora o sistema de perseguir motoristas que supostamente não param ao ser advertidos e, como castigo a esse crime, matá-los. Em uma só noite, foram outros oito.
Nessa perseguição endoidecida, acabaram por matar “um inocente”, um empresário. O jornal de maior circulação de São Paulo titulou: “PM erra, mata empresário”. Em um primeiro momento fiquei indignada, pois crime não é “erro”. Mas afinal o jornal tinha razão: PM “erra” ao matar alguém que não é pobre, que não faz parte das populações do território da pobreza. Sem dúvida era isso que queriam dizer, pois no caso dos mortos anteriores, não se falou de “erro”.
CA - Qual é o tipo de impacto que que causa na polícia paulista as declarações do governador fez "bandido tem duas opções: ou é prisão ou é caixão" e, recentemente, afirmou que quem atacar a polícia "vai se dar mal" e que "não recua um milímetro"?
AMA - As palavras do governador Alckmin são uma incitação aos crimes da polícia. Ele não será candidato a nada, mas seu partido tem um candidato. Será que ele não está projetando para o seu partido uma campanha eleitoral reacionária em que os crimes de policiais serão considerados um trunfo?
CA - E em relação ao comandante da Rota, tenente-coronel Salvador Modesto Madia, que foi um dos comandantes do chamado Massacre do Carandiru, e que em recente declaração à "Folha de S. Paulo" afirmou que não se importa com o número de mortes, mas sim com a legalidade delas.
AMA - Quanto ao novo comandante da Rota, que ao dar tais declarações mostrava-se preocupado apenas com a “legalidade”, agora que a PM matou um empresário ele teve que reconhecer que havia um “reparo legal” pois a vítima não estava armada. Porém, quem nos prova que as outras vítimas, os 16 de Guarulhos, os 8 mortos por não parar seu carro, os três rapazes desaparecidos em Guarulhos estavam armados? As execuções sumárias agem na maior ilegalidade perante o Estado democrático de direito, pois se houvesse efetivamente uma reação de legítima defesa de sua vida, seriam os criminosos a ter que provar que assim foi. E a prática policial de carregar o morto, ou o quase morto para hospitais, recolher as cápsulas deflagradas e desarranjar a cena do crime é uma confissão plena de ilegalidade. Continue lendo.

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