Ao mesmo tempo em que demonstra infinita capacidade de se multiplicar enquanto capital fictício - existem US$ 600 trilhões em supostos direitos de saque sobre um PIB mundial de US$ 60 trilhões - o capitalismo financeiro impõe normas e interditos à sociedade que a impedem de ativar seu pleno potencial produtivo. Capturado por esse redil, o Estado abdica de exercer uma tributação efetiva sobre a plutocracia. A 'opção' pelo endividamento de modo a cumprir funções básicas restringe sua capacidade de ordenar o crescimento e, sobretudo, tracionar a economia em período de recessão, como agora. Às vezes o recurso até existe, mas a estrutura para operacionalizá-lo foi desmontada. O governo Dilma sabe o que isso significa.
A espiral da dívida pública, inerente à sub-taxação, faz dos títulos soberanos o novo lastro da riqueza financeira. Graças à livre mobilidade dos capitais , hoje essa 'funcionalidade' é exercida pelos títulos alemães, suíços e norte-americanos. Seus bônus pagam juro negativo, mas representam um cais de repouso confiável à ' bolha financeira', ou ao que restou dela.
A contrapartida é a quebradeira de Estados zumbis que não conseguem captar nem pagando taxas recordes, caso da Espanha, Portugal, Grécia entre outros. Dá-se assim o desconcertante paradoxo: de um lado sobram recursos a certos Tesouros que se financiam a taxas negativas. De outro, imensas poças de potencial produtivo se acumulam no resto do mundo na forma de desemprego obsceno, fome bíblica , infra-estrutura em frangalhos, cidades caóticas, periferias conflagradas, pobreza e sub-consumo.
Convencer a sociedade de que esse é o 'novo normal' parece ser o plano B do neoliberalismo para ganhar tempo e digerir seu imenso passivo, sem alterar o escopo de poder que o consagra. Nos EUA já se especula que uma taxa de desemprego da ordem de 8% seria o 'novo normal'. Na Europa, admite-se que uma década de atividade rebaixada, até a conclusão do ciclo de ajuste, seria o novo normal do euro.
Eventos climáticos extremos são reportados como o novo normal, dada a impossibilidade de se carrear recursos para projetos globais de reordenação energética e controle de emissões.Continue lendo.
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