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Observatório da Imprensa[Luciano Martins Costa]: Reescrevendo a História
Por Luciano Martins Costa em 15/12/2014 na edição 828
Os jornais de segunda-feira (15/12) tentam desqualificar o relatório da Comissão Nacional da Verdade, confundindo o quadro histórico sobre os crimes cometidos por agentes públicos com casos isolados de vítimas dos grupos armados que resistiram à ditadura. O criminalista José Paulo Cavalcanti, único integrante do comitê que não concordou com o relatório, se transforma em uma espécie de porta-voz do “outro lado”, aquele que é objeto da investigação.
O acirramento das posições políticas provocado pela disputa eleitoral e as contestações que se seguiram à divulgação do resultado das urnas criam o cenário propício à desinformação e a ambiguidades. Assim, questões que poderiam ser debatidas com transparência, permitindo à sociedade colocar uma lápide sobre as tumbas do período de exceção são reacendidas, dificultando o esclarecimento da questão central: nominar os agentes do Estado que cometeram tais crimes e, no limite de todas as possibilidades, revelar o destino dos desaparecidos, para que suas famílias possam finalmente encerrar o luto de décadas.
Esse talvez seja o divisor de valores entre aqueles que insistem em apurar os casos de prisões arbitrárias com torturas e mortes e os que, como o advogado Cavalcanti, misturam atos de indivíduos com políticas de Estado, ainda que subterrâneas.
Uns morreram porque financiavam a atividade repressiva, ou porque atuavam diretamente no conflito, e devem ser considerados protagonistas, e há as vítimas colaterais, que foram apanhadas no fogo cruzado ou eliminadas por agentes da repressão por haverem testemunhado execuções ilegais.
O debate, para ser correto, precisa considerar as circunstâncias de cada caso. Os familiares das vítimas de um lado tiveram direito aos funerais e ao luto. Os do outro lado foram impedidos de honrar seus mortos, e muitos ainda esperam pela confirmação do óbito – direito que lhes foi negado pelo Estado nacional sequestrado pelo poder militar.
Essa é a distinção que dá sentido à Comissão Nacional da Verdade e que coloca sob questionamento o efeito da anistia, imposta como condição para uma retirada honrosa das Forças Armadas do poder político.
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