Barra

DESTAQUES ATUAIS: Informativo     Opinião     Miscelânea     Editorial   Colaboradores   Artigos   Compartilhe:   

sábado, 3 de março de 2012

Laerte Braga: A CABINE TELEFÔNICA DA SUPER DILMA – NEOLIBERALISMO SERVIL

Recebemos no final de fevereiro(25) e por e-mail de um amigo. Por esquecimento ou outras demandas, atrasamos. Lamentavelmente é a pura, cristalina e triste realidade! Como foi dito no post anterior, os partidos no Brasil já não fazem muita diferença. Uma militante de esquerda com um passado de luta, enfrentamento e submetida à tortura, agora se esquece de tudo aquilo que defendeu e por isso, sofreu. Parece que a idade torna muita gente boa em conservadora ou então pergunta-se: Inexoravelmente o poder definitivamente corrompe todo e qualquer princípio de se lutar pelos interesses do País e da maioria da população? Mais Laerte.

Ilustração do blog Assaz Atroz
A CABINE TELEFÔNICA DA SUPER DILMA – NEOLIBERALISMO SERVIL

 

Laerte Braga*

A política econômica em absoluta e estrita obediência às diretrizes de instituições como o Banco Mundial, o FMI. A privatização (que disfarçam com o eufemismo concessão) de quatro grandes aeroportos do País e o anúncio que mais rodovias serão entregues à administração de empresas privadas. A plena falta de tino da presidente para questões de importância decisiva para o futuro do Brasil (basta dizer que Moreira Franco é o ministro Secretário de Assuntos Estratégicos) e um retrocesso sem tamanho na política externa com o ministro Anthony Patriot, funcionário qualificado do Departamento de Estado. A soma de tudo isso mostra um governo neoliberal e servil a uma ordem mundial que se sustenta em arsenais nucleares, já que falida em seus pilares políticos e econômicos.

Um velho e experiente domador de leões costumava dizer que esse negócio de colocar a cabeça na boca do rei da selva é complicado. Numa determinada hora o leão vai fechar a boca e a cabeça vai ser arrancada.

Dilma decidiu colocar o Brasil na boca do leão e já estamos sendo abocanhados aos poucos.

O jornalista Beto Almeida, membro da junta diretiva da TELESUR, faz uma análise precisa e correta da política externa do governo Dilma Roussef e conclui que o País “involuiu” em relação ao governo Lula e seu ministro de Relações Exteriores Celso Amorim.

Às vésperas do carnaval, denuncia que o representante brasileiro nas Nações Unidas votou a favor de sanções contra a Síria, afastando-se do chamado BRICs, países que no governo anterior se constituíram em bloco para afastar-se das imposições norte-americanas em todos os campos políticos (Brasil, Rússia, Índia, África do Sul e China).

Já havia votado contra o Irã e apoiado a criminosa invasão e destruição da Líbia.

A Líbia hoje é um país destruído depois de mais de duzentos dias de bombardeios, em guerra civil e na sexta-feira o governo sírio prendeu 160 soldados franceses que incitavam grupos rebeldes a lutar contra o presidente Bashar Al Assad. A velha hipocrisia da “intervenção humanitária”, o pretexto para assegurar os ganhos nos negócios.  

Dilma é um embuste até em relação ao próprio Lula, muitas vezes adepto de uma no cravo e outra ferradura, ou quase sempre.

O PSDB e as forças que o movimentam agradecem ao poste eleito pelo ex-presidente.
 

Acendeu a luz ao contrário. A sensação que deixa é que ao entrar na cabine telefônica para transformar-se na Super Dilma, sai de lá com a camisa amarela de Super FHC. Delúbio Soares, um dos porta-vozes do petismo oficial chama a classe média de “base da pirâmide social brasileira”. É uma síntese da visão neoliberal do governo.

Há um processo de privatizações e terceirizações, estão sendo desqualificados os serviços públicos, há submissão a interesses das grandes potências (que na verdade são apenas duas Israel e Estados Unidos, a Europa Ocidental é só uma grande base militar), enfim, o roteiro traçado e executado nos oito anos de FHC com um discurso um pouco diferente, lógico, para atenuar o impacto do retrocesso. A América Latina já está sob controle. A Central com a base militar em Honduras e a do Sul com a base britânica nas Malvinas (território argentino ocupado) e pior, com armas nucleares.

Voltamos aos tempos de entreposto do capital estrangeiro. Ou posto de troca dos cavalos na rota das diligências da Wells Fargo, hoje um poderoso conglomerado financeiro nos EUA e com tentáculos espalhados pelo mundo inteiro.

Quando o milionário Eike Batista diz que em poucos anos será o homem mais rico do mundo está afirmando que o BNDES – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social – vai financiar essa paranóia e o dinheiro do BNDES é do trabalhador brasileiro.

A privatização dos quatro aeroportos, que petistas insistem em chamar de “concessão”, na prática vem a ser, a grosso modo, abrir as pernas, da mesma forma vai ser financiada pelo BNDES.

É mais ou menos assim. Se um grupo econômico faz parte dos grupos amigos do poder, o dinheiro surge e os transforma em grupos cada vez mais ricos. Um “socialismo” às avessas do governo do PT e da presidente/poste que acendeu a luz e ilumina apenas a direita.

Ela própria, em sua descoordenação, que é o afã de obter o aval das forças mais retrógradas do País, não percebe que está sendo engolida pelo leão. Ou percebe e acredita que o leão vai ser bonzinho.

É bem mais que um embuste, é um fracasso redondo e rotundo.

Aquela história de esquerda se presta apenas a vender a imagem do que não existe mais, uma lutadora do povo. Luta agora pelos esquemas FIESP associados a interesses estrangeiros.

Os retrocessos na política externa brasileira dão a dimensão que outra vez estamos a reboque, no papel de coadjuvantes de segunda categoria. No governo Lula, malgrado as críticas ao seu todo, éramos protagonistas. E o chanceler era brasileiro.

Entreposto? Se prestarmos atenção não somos donos de nada. Sequer temos um carro brasileiro. O arsenal da Marinha tem plenas condições de produzir os submarinos nucleares necessários à guarda do litoral do País. Os setores estratégicos da economia estão privatizados e nem Lula mexeu nisso, enquanto Dilma aprofunda essas políticas de entrega.

As grandes mineradoras ou são estrangeiras (caso do nióbio), ou grupos nacionais associados a grupos estrangeiros. Vale dizer que no caso da VALE – supostamente ainda brasileira – a imensa extensão de terras da empresa aqui e em outros países, significa a cessão do subsolo. Nem a Constituição de 1946, liberal no sentido clássico do termo, abria ou permitia esse tipo de concessão.

A água está escoando pelas mãos de grupos como a Nestlé. A privatização da EMBRAER privou o Brasil de tecnologias que já estavam ameaçando as empresas internacionais. Como a própria indústria bélica, IMBEL e ENGESA.

No estado de Minas Gerais, ao sabor da doença Aécio Neves e agora Antônio Anastasia, as grandes companhias mineradoras destroem o ambiente com reflexos que se fazem sentir em outros estados como o Rio de Janeiro, por conta do curso dos rios. As licenças são concedidas pela FEAM – Fundação Estadual do Meio Ambiente – onde a corrupção é generalizada.

Somos donos de que? Em determinadas regiões da Amazônia brasileira a presença de estrangeiros disfarçados em religiosos, bondosos voluntários a ajudar índios, populações ribeirinhas, etc, vão aos poucos transformando em realidade a frase de Al Gore (foi vice-presidente de Clinton) – “a Amazônia é importante demais para ser só brasileira, o Brasil tem que entender que deve reparti-la com o resto do mundo”.

O viés tacanho de militares brasileiros, em sua maioria aceita passivamente essa dominação num acordo militar que nos torna subalterno com os EUA. Entendem que demarcação de reservas indígenas e proteção ambiental têm cheiro de comunismo, sem ter a menor idéia, além de aprender que 1964 foi uma “revolução”, sendo um golpe conduzido por potência estrangeira, que a ocupação do País se dá de forma organizada e consistente desde o governo FHC, que na prática apenas sistematizou uma realidade que vem desde tempos imemoriais.

A classe trabalhadora brasileira anestesiada por um dos tentáculos mais poderosos desse sistema – o capitalismo – a mídia de mercado, não percebe, por exemplo, todo esse processo e acredita que é capaz de mudar os rumos do País pela via eleitoral.

Temos um modelo institucional falido. É uma bolha onde um clube de amigos e inimigos cordiais repartem entre si o País e suas riquezas. O governo Dilma não foge desse esquema, pelo contrário, caiu de braços abertos no clube.

A emenda constitucional que pôs fim ao monopólio estatal do petróleo – governo FHC – permanece intocada e o pré sal vai se esvaindo aos poucos para mãos de grandes empresas petrolíferas do conglomerado que controla o mundo.

A política externa é sintoma disso. O governo Dilma deu as costas aos seus compromissos, o seu partido tenta justificar o injustificável e isso coloca para os partidos populares, as forças do movimento social, o desafio de buscar sacudir os trabalhadores e mostrar-lhes a realidade que vai muito além do assistencialismo de programas como o bolsa família.

O que é o Congresso? O que são governadores? Em sua esmagadora maioria eleitos por grupos religiosos ultra conservadores e a serviço de potência estrangeiras, os financiados por empresas e pelo sistema financeiro e poucos a lutar pelos interesses do País e dos trabalhadores. De quebra os latifundiários agregados a empresas como a MONSANTO, despejando em nossas mesas as doenças de cada dia do transgênico e do agrotóxico.

É o desafio que se tem pela frente. A tarefa que deve ser cumprida, antes que o leão feche a boca de vez e triture a cabeça/país.

Com Dilma não vamos a lugar algum seguro. Pelo contrário, o poste eleito por Lula é um embuste político, um atraso em relação a algumas conquistas dos últimos anos.

Não é só uma luta político/partidária, é pela sobrevivência do Brasil como nação soberana e dos brasileiros como seres livres e capazes de definir o nosso destino.

*Laerte Braga é jornalista, natural de Juiz de Fora-MG. Trabalhou no Diário Mercantil e no Diário da Tarde de Juiz de Fora, para os Diários Associados e pela agência Meridional (primeira grande agência de notícias do Brasil) e também dos Diários e Emissoras Associadas, tendo sido correspondente do Estado de Minas de Juiz de Fora e Zona da Mata, e também trabalhou como freelancer para revistas e jornais do Brasil e de outros países. Citação daqui.

Nenhum comentário: