QUEM
NÃO TEM CÃO CAÇA COM GATO
Ou
de como a carruagem foi se transformando em abóbora
Max
Antônio Amaral
Ao
final do clássico e com o vice-campeonato matematicamente confirmado
confesso que comemorei como fosse um título.
Não,
não foi festa de quem está no jejum há muito tempo. A explicação
é muito simples.
O
vice-campeonato significava e significa a participação definitiva e
direta do Atlético no principal torneio do continente. E mais: com
tempo de se preparar e fazer uma pré-temporada condizente com as
exigências do torneio.
Ingenuamente
acreditava que o Atlético iria se reforçar pontual e
estrategicamente para disputar a próxima Libertadores.
Achava
que a experiência acumulada pelo diretor Eduardo Maluf no rival e a
ambição do presidente que, no meu entendimento, deveria estar
sonhando em ser o primeiro presidente do Atlético a colocar no peito
as faixas de campeão da Libertadores e do mundo, norteariam o
planejamento e as contratações do clube para a próxima temporada.
Mas
não, tudo não passou de um sonho. Mal 2013 se inicia e o sonho já
se converteu em uma grande frustração.
Hoje
vejo com clareza que eu estava redondamente enganado.
Inexplicavelmente o Atlético, além de não se reforçar como devia,
inicia a temporada 2013 praticamente com o mesmo elenco e com os
mesmos problemas de composição e, portanto, com as mesmas
deficiências e com os mesmos problemas que inviabilizaram a
conquista do título brasileiro de 2012.
Por
exemplo: o buraco tático aberto com a saída mal explicada e mal
administrada de Danilinho remanesce. Assim, os riscos de que
Guilherme uma vez mais seja submetido àquele imoral, cruel e absurdo
sacrifício tático que o treinador lhe impusera no ano passado, são
mais do que reais. Diria eu que até são óbvios.
O
que Guilherme poderá esperar da torcida alvinegra diante de
possíveis novos maus desempenhos em função de mais sacrifícios
táticos que certamente Cuca lhe imporá nesta temporada? A resposta
é simples: mais incompreensão, mais intolerância, mais desgaste,
mais críticas injustas, mais vaias.
E
o que dizer das caras novas anunciadas até agora?
Gilberto
Silva é um excepcional jogador. O fato complicador é a idade
avançada. Não tenho nenhuma duvida de que ele será utilizado de
forma estratégica e tática. Mas, por certo, não veio para ser
titular absoluto. De qualquer maneira, seja bem vindo.
Rosinei
é uma incógnita. Se bem me lembro, ele é um volante que sai para o
jogo. Um Serginho melhorado. Ouvi dizer que ele teria sido contratado
para ocupar o espaço deixado por Danilinho. Para jogar em sua
posição e cumprindo funções de acordo com as suas características
Rosinei é muito bem vindo. Mas, para ser a solução definitiva do
time na armação pelo lado direito acho isso uma temeridade. Além
disso, o seu histórico recente de contusões deixa muito suspense
quanto ao que ele poderá mostrar no Atlético.
Luan
é jovem demais, inexperiente e, além de tudo isso, está contundido
e a sua recuperação irá certamente comprometer a sua
pré-temporada.
Alecsandro
tem, em princípio, tudo para ser titular. Apesar de ser apenas um
bom atacante, sem nenhum brilho especial, é melhor do que Jô, o
que, aliás, não é vantagem, é obrigação de qualquer atacante
que queira jogar no Atlético.
A
Libertadores exige um perfil de jogadores do qual o elenco atual do
Atlético é absolutamente carente.
Preocupa-me
bastante o lado emocional, psicológico e o equilíbrio do time. A
campanha bizarra do segundo turno do brasileirão 2012 me deixa com
muitas pulgas atrás das minhas orelhas.
Aliás,
não só a equipe se mostrou oscilante durante todo o segundo turno,
como Cuca também usou e abusou do direito de errar. O comando
central errou feio ao não identificar e corrigir os desvios de rota
que se verificaram um sem numero de vezes e que arrasaram a equipe
especialmente no segundo turno da competição.
É
bom lembrar que os problemas que pipocaram durante o segundo turno já
se pré-anunciavam há algum tempo e demandavam ações corretivas
que, infelizmente, jamais foram desenvolvidas por quem de direito.
Não
fosse a incrível gordura acumulada no primeiro turno, talvez não
tivéssemos conseguido nos classificar nem para a fase de
pré-libertadores.
O
empréstimo inexplicável, absurdo, temerário e absolutamente fora
de hora de André para o Santos, talvez em um inoportuno acerto de
caixa, a saída intempestiva de Danilinho, o sacrifício tático de
Guilherme, a não utilização de Juninho, de Leleu e de Paulo
Henrique, a ortodoxia tática, a insistência com os chutões para
que Jô funcionasse como pivô (jogada manjada e facilmente marcada
por todos os nossos adversários com o passar dos jogos) e o mau
planejamento na formação do elenco que provocou deficiências de
banco, ao contrario do que “vendia” uma propaganda maldosamente
dirigida por determinados segmentos da mídia para iludir a massa,
foram alguns, dentre outros, dos principais problemas do Atlético
que sopitaram fundamentalmente no segundo turno do brasileirão,
fazendo com que entregássemos o título de bandeja para o Fluminense
e por pouco cedêssemos a outros clubes a nossa vaga na Libertadores.
Ao
não reforçar o elenco e o time como era de se esperar, o comando
alvinegro revela falha imperdoável de diagnóstico, imaginando que o
simples fato de manter a base já seja suficiente para garantir
sucesso nas empreitadas que o Atlético tem pela frente.
É
bom lembrar que neste ano (2013) o Atlético deverá disputar além
da Libertadores o campeonato mineiro, o campeonato brasileiro e a
Copa do Brasil. Se vencermos a Libertadores o que é muito difícil,
mas não impossível, também entrará na nossa agenda o Mundial
Interclubes.
O
calendário é complicado e prevê acúmulo de jogos e, portanto,
exige um elenco reforçado e robusto, com um leque de opções
elástico e eclético. Ou seja, com um elenco que o Atlético de hoje
está longe de possuir.
De
tudo isso, e a bem da verdade e da justiça, é preciso reconhecer
que a realidade está a exigir do Atlético planejamento, estrutura,
projeto, ousadia e visão, muito acima da capacidade de resposta de
um clube que esteve submerso em um violento processo de definhamento
nas últimas cinco décadas no mínimo.
É
que não se passa de uma fase para outra em um simples estalar de
dedos.
É
preciso uma mudança ampla e geral de conceitos, de cultura, de
metodologia administrativa e de estrutura. Ou seja, é preciso um
projeto consistente que objetive a inserção definitiva do Atlético
no primeiro mundo do futebol.
Para
se atingir este patamar é preciso que o Atlético rompa de vez as
barreiras de Minas e as limitações do mercado publicitário
mineiro, maximizando com efetividade as suas receitas.
E
isto demanda tempo. Tempo que a torcida não concede e jamais
concederá.
Durante
muito tempo o Atlético vem confundindo pensar com os pés no chão
com pensar pequeno. Durante este mesmo tempo o Atlético vem
confundindo também despesa com investimento. Ambos exigem gastos,
apenas o segundo gera retorno, se bem planejado.
Inegavelmente
o desafio do presidente e de quem quer que esteja à frente do clube
é imenso.
O
Atlético tem um fator propulsor tremendamente importante e
amplamente favorável à construção e a alavancagem deste projeto:
a fortuita contratação de Ronaldinho Gaúcho e a feliz renovação
de seu contrato. Este é o fermento do bolo que, se bem preparado,
bem que poderia comportar não apenas uma cereja, mas varias outras.
R49
é fabrica de dinheiro e arma de marketing extraordinária. O recente
lançamento de seu filme na Índia mostra isso à exaustão.
Se
bem utilizado e com planejamento adequado pode render frutos
impressionantes para o clube. Com a sua contratação o Atlético
caminhou dez anos em um e não pode se permitir qualquer tipo de
retrocesso.
Ainda
há tempo de se trazer a tal cereja para o nosso bolo. Mas, para
isso, é preciso ousadia, sacrifício e atitude.
Tardelli
não esconde que quer voltar. Existem outros clubes brasileiros
interessados e que já estão se movimentando para contratá-lo.
É
preciso ter em mente que Tardelli, antes de qualquer coisa, é
profissional e não é obrigado a jogar no Atlético de graça.
Além
disso, qualquer outro clube, sem exceção tem o direito de tentar
contratá-lo e de lhe fazer propostas. Não se pode exigir que o
atleta e o seu empresário não ouçam outras propostas.
O
presidente, se ainda quiser contratá-lo, tem que ir até a fonte, ou
seja, conversar diretamente com o dirigente máximo do clube árabe
detentor dos direitos do craque. QUEM QUER VAI, QUEM NÃO QUER MANDA.
Quem
chega à fonte primeiro bebe água limpa e se livra dos incômodos
leiloes.
Que
é uma contratação difícil ninguém duvida, mas não é
impossível. E vale qualquer sacrifício.
O
mesmo se aplica a Robinho.
Particularmente,
tenho a forte sensação de que, desta vez, o Atlético não se
movimentou para efetuar qualquer contratação de vulto, não quer e,
muito provavelmente, não irá fazê-lo.
Via
de regra, o atual presidente, apaixonado e destemido à sua maneira,
quando quer vai. Desta vez, não. Se até agora nenhuma contratação
de peso foi feita é porque não se andou de fato nesta direção.
Uma pena.
Talvez
os compromissos assumidos para honrar o contrato com Ronaldinho
tenham intimidado o presidente.
É
bom lembrar que a contratação de Alexandre Pato pelo Corinthians
tem o dedo dos parceiros da equipe paulista e que uma transação
deste porte já vem sendo imaginada e planejada há algum tempo. Não
é coisa definida de um dia para o outro.
A
Libertadores, entretanto, já está aí e o tempo é mais do que
curto. Independentemente da chegada da tal cereja, resta ao Atlético
agora fazer dos seus limões uma limonada tragável e suculenta.
Assim,
entendo que dentre os jogadores que estavam emprestados Nikão, Eron
e Geovani Augusto, amadurecidos e respaldados pelas excelentes
campanhas que realizaram nas equipes onde estavam jogando e Mancini,
em função da experiência, devem ser naturalmente reintegrados.
Com
todo respeito a esta rapaziada, quem não tem cão, caça com gato.
E
como disse acima, se der para trazer um dragão, Tardelli ou Robinho,
todo sacrifício vale a pena.
Saudações
atleticanas.
Um comentário:
As "caras novas" do Cruzeiro anunciadas pelo sr. Gilvan também não trouxeram entusiasmo para a torcida. Aliás, o Cruzeiro é perito em perder craques do porte de um Montillo, muito embora eu reconheça que ele já não queria ficar há tempos.
Ótimo texto.
Saudações celestes.
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