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sábado, 20 de outubro de 2018

IMAGINE



IMAGINE

Imagine um país não muito distante, pertinho até. A economia vai mal há anos. Venderam todo patrimônio público. Quem comprou foram os estrangeiros e fecharam várias das empresas privatizadas. Os recursos advindos da espoliação sumiram para o pagamentos das dívidas. Mas a dívida pública só aumenta.

O desemprego aumenta mas a TV mostra os novos empreendedores informais fazendo bolo e brigadeiro para sobreviverem. Mas todos vendem bolo e brigadeiro.

Nem bico aparece mais. Todos viraram pedreiros, pintores ou eletricistas.

Mas as pessoas vão à missa ou ao culto. Rezam ou oram a Deus, mas Deus saiu. Muitas tentam ir para o Canadá, Austrália ou Japão. Mas os vistos não são emitidos mais.

As favelas aumentam. Levas de agricultores lotam as cidades pois o campo foi mecanizado para monocultora de soja e milho para exportação.

As drogas sofrem forte repressão. A posse de qualquer quantidade transforma o portador em traficante. Mas fuma-se cada vez mais tabaco, afinal o povo tem que ter algum lenitivo. E o futebol bombando, o carnaval também.

Parece haver segurança, mas o tráfico explode. Drogas sintéticas são produzidas em laboratórios caseiros e distribuídas de mão em mão. Assaltos pequenos são poucos, agora são espetaculares em rodovias distantes, visando principalmente os carros forte, as cargas também são alvo. Não sai nada na mídia. Mas a imagem de segurança está imaculada.

A gasolina, o diesel e o gás de cozinha são importados e estão cada vez mais caros com a desvalorização da moeda.

A maioria já não tem plano de saúde. Médicos, clínicas e laboratórios veem os clientes minguarem. E a Saúde Pública entra em derrocada.

O valor das aposentadorias já beira a um salário mínimo. Não existe mais Salário Desemprego, e as demais políticas de assistência e inclusão social só existem no papel. Carteira de Trabalho esquecida, agora, praticamente só o trabalho informal ou o intermitente.

A Educação Pública definha. Salas com sessenta alunos e professores muito mal remunerados. As escolas particulares estão quase sem alunos. Mas todo dia canta-se o Hino Nacional e a bandeira é hasteada.

As cotas acabaram, afinal a universidade pública só para os filhos da burguesia. Não é mesmo?

O comércio de rua vive às moscas e em decorrência a indústria ressente. Agora se compra pela internet de qualquer lugar do mundo. Comerciários e industriários já são muito poucos. E cada vez mais portas fechadas com placas de vende-se e aluga-se.

O setor imobiliário vai muito mal, mas existem lançamentos de condomínios a beira mar com praias exclusivas. Público alvo: estrangeiros e nativos muito ricos.

Comerciantes e industriais ainda vivem de renda. Uma hora o dinheiro acaba. Mas os grandes rentistas e o capital financeiro ainda resistem.

Mas se tem segurança. Mendigos e moradores de rua são presos por vadiagem. Camelôs também são presos por comércio ilegal, ouve-se cada vez mais: o rapa vem aí! As batidas policiais cada vez mais violentas. Os negros e mulatos sempre esculachados e humilhados. Matam vários: auto de resistência. Boné não pode.

Os indígenas perderam a maiorias das suas reservas. Os quilombos foram destruídos. Os das cidades foram entregues para a especulação imobiliária.

Reforma agrária nem pensar, os assentamentos foram abandonados ou extintos. As terras remanescentes foram griladas. Grande parte dos alimentos são importados.

Já se vê muitas carroças nas ruas. O frete fica mais em conta.

Voltou a censura, temas polêmicos na TV, não mais. Afinal o que importa é a moral. As novelas de tão doces, melosas. A internet também foi censurada, pornô não se consegue acessar, nem um singelo nu.

O governo “exilou” para Corumbaile um transformista, um tal de Pablo Vital, que outrora tinha grande sucesso. Brigadas da Moral apedrejam os LGBT, a polícia também os torturam.

A fronteira agrícola para a monocultura de exportação expande. Florestas viram carvão, afinal o gás está muito caro. Ecologia e Meio Ambiente são temas do passado. Está quente por aqui e quando chove inunda tudo. Mas não chove nos mananciais. A represas estão secando. Energia elétrica muito cara e tem apagão toda hora.

Senhoras pias fazem passeatas contra os maus costumes. Roupa curta papai não deixa.

Mas os pais levam seus filhos homens aos bordeis. Lá, ambos se divertem!

Papai também mantém uma quitinete para a sua amante, mas a moral está preservada. Não se empregam mais mulheres. Agora são Do Lar!

O Comandante Supremo entrincheirado no palácio da capital, fala ao povo pela internet e em TV, com transmissão obrigatória. De vez em quando aparece em alguma partida de futebol. No Carnaval sua presença é certa. O Congresso e Assembleias discutem cidadania honorária. Os vereadores discutem trocar nomes de ruas. 

Não, não estamos nos anos 1960. Esse caos pode ser aqui a partir de 2019. Você irá deixar?

Um comentário:

Enfermagem com Saúde disse...

Brilhante pensamento crítico!! Não podemos regredir e ser manada de um discurso com falso moralismo democrático, encastelado e americanizado (WhatsApp), através do voto "condoído" devido a onda emocional de um crime hediondo que provocou reação de grande indignação moral, ignóbil, pavoroso, repulsivo. "Saúde e Educação é direito de todos e dever do Estado" e não uma mercadoria. Márcia Pereira