Os perigos do relativismo e do negacionismo rondam a vida social
Leonardo Koury Martins*
A
construção da vida social não é linear e nem mesmo presa na
lateralidade das condições ideais. A sociedade vivencia a partir da
amplitude das oportunidades e dos direitos constituídos como irá
caminhar dia após dia. Na vida social, não existe apenas o mundo do
trabalho ou da família, mas as instituições religiosas, esportivas, o
papel do lazer e da cultura propiciam avanços, mas também, por vezes,
regressos coletivos inimagináveis.
É nesse processo que o relativismo e o negacionismo podem se tornar grandes vilões dos direitos conquistados pela classe trabalhadora. Esses vilões no Brasil apregoam nos últimos anos proporções nunca antes sentidas por nossa geração. A presença de governos que ignoram o saber científico e relativizam a realidade social e econômica da população em geral, amplia as vozes intolerantes que acreditam que os termos vida e morte são uma questão de opinião.
Para contribuir com as reflexões sobre estes fenômenos, o relativismo é do ponto de vista epistemológico a afirmação da relatividade do conhecimento humano e a inconscibilidade do absoluto e da verdade. É neste processo que à razão de fatores aleatórios e/ou subjetivos se tornam inerentes ao processo cognitivo.
Quanto ao negacionismo é a escolha de desacreditar na realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável. Quando tratamos do conhecimento baseado na ciência, o negacionismo deve ser definido como a rejeição dos conceitos básicos, incontestáveis e apoiados por consenso científico a favor de ideias que ao mesmo tempo são radicais e também controversas.
Se explicam esses fenômenos aliados à pandemia quando os governos em geral ignoram desde o papel da ciência (como no caso da celeridade na vacinação), quanto a não tomada de medidas sanitárias (ausência do papel do Estado por normatizar as restrições e o distanciamento); que possam diminuir os casos de contaminação. Nos equilibramos nos últimos anos entre ignorar a realidade pandêmica, quanto relativizar os limites e os desafios para a saúde coletiva e para o direito à vida, esses tão necessários.
Porém os desafios vão além da Pandemia, que neste estágio entre sintomas gripais diversos afetam milhões de pessoas por dia em todo o mundo a partir da infecção e óbito de crianças, idosos e pessoas com baixa capacidade imunológica. A irresponsabilidade quanto ao aumento dos casos de Covid19 e o H3N2 são pontas de um iceberg que se encontram em nossos mares.
É a partir do negacionismo e do relativismo os casos de feminicídio, de lgbtfobia, de desmatamento nas florestas, dos ataques às populações das favelas e do campo se ampliam e normalizam no imaginário social. O respeito a vivência e a cultura dos povos e comunidades tradicionais, assim como o ataque aos direitos públicos estão interligados hora porque não se acredita na importância da história e hora na imobilidade de reação futura, por acreditar que não existe nada mais a se fazer.
Mas, existe entre esses vilões dos direitos conquistados a capacidade de esperançar. O verbo pronunciado pelo educador Paulo Freire, a partir da palavra esperança. A racionalidade dominante, como descreveu Milton Santos, é incapaz de nos convencer que as “coisas” sempre foram e sempre serão assim. Nas marés mais cheias, também existem os ventos que sopram a favor das pessoas que negavam, são os ventos da esperança.
É na esperança que possamos visualizar a tarefa de que todas as vezes que dizemos não às práticas do relativismo e do negacionismo, nós nos (re) posicionamos. E quando fazemos isso, várias vezes ao longo do dia; e no dia a dia de todos os dias; temos uma esperança maior do que a nossa própria existência.
Essa esperança e este esperançar é parte do projeto popular que não apenas nos inspira no Brasil, mas em toda a América Latina e no mundo. Um outro mundo é possível, e necessário.
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